Naamã é curado da lepra







Wilma Rejane

“Vai, lava-te sete vezes no Jordão e tua carne será restaurada, e ficará limpo” II Rs 5:10


O Jordão era um rio de águas barrentas e preterido por quem desejasse mergulhar e ficar limpo. Mas foi nesse rio que o profeta de Deus chamado Eliseu, ordenou que Naamã valoroso homem, capitão do exército do Rei da Síria, mergulhasse para ficar são da lepra. A passagem Bíblica sobre a cura da lepra de Naamã, nos fala também de orgulho e agir  de Deus através de coisas simples e quotidianas.

Situando a história no tempo, ela ocorre  quando Israel viveu turbulentos períodos de guerra que envolveu o reinado de Acazias e a queda da nação  para a Assíria em 722 a.C. Uma época, em que ser leproso era muito problemático porque o convívio do doente com a sociedade exigia muitas privações. Contrariando a ideia de abatimento, isolamento e discriminações causados pela doença, Naamã era líder de um exercito com transito livre no palácio e grande influência diante do Rei da Síria. 


Imaginem alguém com insensibilidade em toda a pele, sendo reconhecidamente um guerreiro. Esses indícios  revela um Naamã que não media esforços para vencer suas limitações. “Um homem valoroso diante do seu senhor” ( II Rs 5:1). Suas vestes facilmente se apegavam  à carne ferida, deixando as marcas de sangue e de outros corrimentos. A vida diária de Naamã despendia cuidados e sacrifícios.

A nobre roupa do capitão Naamã, era manchada diariamente. Por fora um elegante traje, por dentro desconforto e ferimentos. Sua esposa constantemente lamentava a situação do esposo. Uma menina escrava da terra de Israel, havia sido capturada pelo exercito de Naamã e estava servindo em sua casa, ela cuidava especialmente das roupas de seu senhor. Seu contato direto com as lágrimas da esposa do capitão a fez declarar: “ Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que esta em Samaria, ele o restauraria da sua lepra” II Rs 5:4.




O capitão escutou a fala da pequena escrava e se dirigiu com uma caravana para Samaria, na bagagem, muitas ofertas de valor para recompensar o profeta. Seu senhor, Rei  da Síria também enviou carta para que o rei de Israel o recebesse e intercedesse em seu encontro com Eliseu a fim de ser curado.. O encontro entre Eliseu e Naamã é frustante, decepcionante. O profeta sequer se levanta da mesa onde estava reunido com outros profetas e discípulos para receber Naamã.

“Veio, pois, Naamã com os seus cavalos, e com o seu carro, e parou à porta da casa de Eliseu.Então Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será curada e ficarás purificado. Porém, Naamã muito se indignou, e se foi, dizendo: Eis que eu dizia comigo: Certamente ele sairá, por-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso. Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado? E voltou-se, e se foi com indignação."  II Reis 5:9-12


A causa do mal e o engano no culto.

Não fosse a decepção de Naamã  em relação a Eliseu,  não saberíamos ao certo quem ele era realmente: orgulhoso e murmurador. Ficaríamos com a recomendação do inicio da narrativa Bíblica que o descreveu como “valoroso diante de seu senhor”. E se era valoroso, certamente tinha muitos atributos de bondade , sua lepra portanto, seria uma incógnita: “como alguém tão bom poderia padecer de tão grande mal”? Diariamente fazemos interrogações desse tipo procurando justificativas para o mal. É como se ele tivesse uma razão de existir, fosse uma sentença. 

Os discípulos de Jesus, caminhavam com Ele, certa vez, quando encontraram um cego de nascença e a dúvida que lhes surgiu, também está presente na mente de muitos de nós: “E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. " João 9:1-3

É impossível para nós desvendarmos as causas do sofrimento humano, contudo Jesus nos diz que todo sofrimento pode ser transformado em glória. Seria isso um ode ao sofrer? Nada disso! A Bíblia é a Palavra de vida e o que encontramos Nela, não encontramos em nenhum outro lugar. É através dela que ouvimos: “Eu te curo, te salvo, te consolo. Eu o Senhor não abandono, mas restauro, renovo, faço tudo melhor. Eu Sou o que uso as coisas frágeis, simples e imperfeitas para minha glória”. Em Cristo Jesus, todo sofrimento se desdobra em bençãos que excede a perda. Sim, isso não é ilusão, é vida, é Palavra que nunca e jamais muda. Olhemos para o  o sermão da montanha que é um oásis para os cansados e oprimidos de todas as eras: “Bem aventurados os que choram, sofrem, eles serão consolados, em Mim Jesus eles serão consolados” Mateus 5. E todo consolo em Cristo só é possível porque um dia Ele sofreu, foi crucificado. 


Naamã foi esse homem consolado pela fé no Deus de Israel, o mesmo Deus que continua operando hoje e eternamente. Deus olhou para Naamã e viu sua fé. Ele tinha certeza de que ficaria curado. Ouviu sua pequenina escrava e partiu em direção ao profeta com muitas recompensas. Naamã, não faria tudo isso se não cresse.

Esse homem cheio de fé, tinha também muito orgulho dentro de si. Ele era acostumado a receber honras e achava que era merecedor de atenção especial pela posição social que ocupava. Naamã, apesar de leproso, vivia de forma confortável, pois nada lhe faltava financeiramente. Enfim, Naamã pode ser comparado a um nobre diplomata, politico de grande fama e prestígio. Parecido com muitos que vemos na TV, nos jornais e no congresso. Homens importantes para o povo e para a nação, dotados de poder de  persuasão, liderança e riquezas, mas inflexíveis diante de Deus, arrogantes nas ações. “Banhar no Jordão?  Quanta afronta cometida por Eliseu que sequer veio me cumprimentar”.

Naamã acreditou que veria trovões e fumaça quando de sua cura. Que Eliseu faria algum ritual, tocaria seu corpo e algo eletrizante percorreria seus sentidos enquanto a carne de seu corpo se transformaria. E quantos não estão nessa situação de ignorância para com o agir de Deus? Procurando movimentos que os façam cair, desacordar? Buscando tocar ou se apoiar em “homens e mulheres de poder”?  Deus se revela como quer  e faz maravilhas em todo e qualquer lugar. Pode ser através de terremotos (Paulo e Silas na prisão) , de luzes e visões ( Paulo na estrada de Damasco), mas esses fenômenos são exceções, algo raro e especifico. Se em algum lugar essa junção de coisas acontece diariamente e corriqueiramente é de se preocupar: tem algo errado. Somente o conhecimento da Palavra de Deus poderá limpar e curar os doentes presos a esses rituais.

Ele  ouviu falar no Deus de Israel, tinha fé que seria curado, mas desconhecia os caminhos que seriam usados para isso. Ele era acostumado a acompanhar o rei da Síria na adoração de falsos deuses e jamais havia participado de um culto ao Deus verdadeiro. Deus não leva em conta o tempo da ignorância e ensinou ao capitão que era preciso se humilhar, reconhecer sua insignificância para realmente se tornar grande e agradável a Deus. Essa é a cerne do verdadeiro adorador: humildade. É quando nos humilhamos que Deus nos exalta.


Abana e Farpar 

"Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?

Queremos banhar em Abana e Farpar, não nas águas barrentas do Jordão. Queremos o conforto, a comodidade a manutenção de nosso ego e de nossa vida mundana. Nada de se rebaixar, de se curvar perante Deus e os homens. Nada de reconhecer que somos barro e ao barro voltaremos. Mas é justamente quando descemos ao Jordão e mergulhamos em suas águas que nos tornamos valorosos para Deus, é quando nos curamos por dentro e por fora. O profeta João Batista pregava o arrependimento nas águas do Jordão, a imersão do velho homem e o surgimento de um novo. Era isso que Naamã precisava fazer. È isso que todos nós precisamos fazer para sermos herdeiros da graça e do Reino eterno com Jesus. “ Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes” Tiago 4:6.

Deus é longânimo


Estava tudo muito difícil para Naamã, impossível mesmo de acontecer por conta de seu orgulho, mas Deus envia mais uma Palavra pela boca de um de seus soldados: “Então chegaram-se a ele os seus servos, e lhe falaram, e disseram: Meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te, e ficarás purificado. ” 2 Reis 5:13.

E quantas vezes Deus nos fala e nós nos negamos a ouvir. E quantas vezes Ele insiste e nós não reconhecemos Sua voz, porque estamos distantes, com o coração cheio de preocupações, incredulidade e soberba? Depois o culpamos por nossa infelicidade, assim como Naamã culpava a Eliseu. Jó 33:14: “Antes Deus fala uma a duas vezes, porém ninguém atenta para isso”.


A cura



“Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado. ”2 Reis 5:14


Pela segunda vez Deus enviou Sua Palavra pela boca de um servo de Naamã. Eis como devemos estar atentos a voz dos que nos rodeiam, dos que trabalham conosco, daqueles que tendemos a não darmos o devido valor. Nossos servos podem ser instrumentos de Deus para nos abençoar. Nisso o capitão demonstrou sabedoria. Como servo do rei da Síria, ele sabia que muitas vezes seu senhor estava errado, precisando de correção. Quantas vezes seus conselhos não ajudaram a vencer as guerras? Naamã sabia reconhecer o valor de um escravo.


Então voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva, e chegando, pôs-se diante dele, e disse: Eis que agora sei que em toda a terra não há Deus senão em Israel. 2 Reis 5:15

Naamã mergulhou sete vezes no Jordão e foi completamente curado! Em seguida, voltou até Eliseu para agradecer. Novo Naamã grato  e humilde. E nós estamos voltando para agradecer a Deus pela provisão diária, pelos livramentos e curas? Naamã ainda pediu permissão a Eliseu para levar um pouco de terra de Israel, ele estava acostumado a acompanhar o rei nos cultos e sacrifícios a Rinom (deus da chuva e do trovão) e estava determinado a não mais fazer aquilo. A terra era para memoria e parte dos sacrifícios futuros ao Deus de Eliseu, o Deus de Israel. O capitão e ex-leproso fora curado por dentro e por fora, sua presença poderia ainda ser comprovada nos palácio, nos cultos a Rinom, mas seu coração estava inteiro doado ao Deus de Israel.


Quantas lições aprendemos com a história de Naamã! Nós quanto cristãos, poderemos ser vistos com pecadores, mas nosso coração deve pertencer inteiro a Cristo, sem sombra de variação. Nosso chefe, patrão ainda que seja um descrente incrédulo e idolatra, pelo dom da graça estamos livres para sermos seus serviçais. Nossa conduta não pode nem deve ser corrompida pelos infiéis, antes pelo contrário, oremos para que eles sejam conduzidos a Cristo  através de nosso testemunho.


Na cura de Naamã encontramos certeza e esperança de que Deus trabalha diariamente para dar o melhor a cada um de nós. O Deus que realizou todas as maravilhas na vida de Naamã  nunca mudou e para Ele não existe impossibilidades. 

Amém.

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